Foi quinta-feira, que recebi a triste notícia de que, contra a minha vontade, teria de sentar-me na carrinha. Pois estávamos sem um condutor para os carros de Apoio (por motivos de saúde de um casal – Força Pedro e Susana!) Porque é que fui…Na apresentação, foi-nos pedido para dizermos o nome, idade e porque estávamos ali. Ouvi vários motivos, que aqui não menciono por serem dos meus amigos, mas o meu foi: “Para encontrar um caminho”.“Para encontrar um caminho”. Pode ter muitas interpretações: querer mudar de vida; procurar uma nova orientação; procurar alguma coisa que perdi… a ver vamos o que era.No primeiro dia, depois de termos ido à missa no Carmelo de Coimbra, fomos ao locutório e podemos passar uns momentos com as Freiras do Carmelo de Coimbra. Foi com muito entusiasmo que fomos recebidos por alegres e simpáticas Irmãs, que desmistificaram a ideia que eu tinha de serem pessoas muito reservadas. Vi uma família, alegre e bem-disposta, que nos ofereceu incentivo (e chocolates), força (e chocolates), alegria (e chocolates)... Não esquecendo os chocolates. E aí, por intermédio do nosso amigo Frei João, ficou prometido (por ele) que depois de me casar, iria lá com a minha namorada levar um pouco de bolo para as irmãs, o que consenti e assinei por baixo.Contra todas as expectativas, fui informado mesmo na hora de partida que não iria conduzir o carro de apoio mas sim iria caminhar com o grupo, o que fiz com alegria correndo ao encontro deles porque já desciam a rua.E comecei a caminhar com destino a Fátima (se lá chegar – posso dizer estava assustado e receoso).Na companhia do Tiago falámos de muita coisa: namoro, casamento, Carmo Jovem, Raparigas, aventuras que passamos com grupos de que fazemos ou fizemos parte, futebol (ele é do Braga e eu do Porto), etc.Peregrinar não é só caminhar no sentido da palavra, é também partilhar experiências, dialogar com a pessoa que está ao nosso lado, apoiar os nossos companheiros de viagem, rezar com a mente, a boca e com os pés (sim, porque os pés também rezam)…Durante o tempo que estive só, e enquanto os meus pés rezavam e pediam para chegar ao destino, por muito tempo pensei nas palavras da minha namorada, (que com muita pena não me acompanhou fisicamente), em que pediu que eu aproveitasse estes dias para encontrar um pouco de paz de espírito e que ao mesmo tempo pudesse relaxar da vida do dia-a-dia. Quando terminei o primeiro dia, e já no meu colchão cama, estava satisfeito por ter terminado o primeiro dia, sem grandes mazelas. Deitado pensava: Porque caminho…O segundo dia, já se revelou mais duro, porque caminhámos pelo sossego dos caminhos nos montes, subia e descia constantemente, tendo necessidade de socorrer-me do carro de apoio por estar com muitas dores.Já depois de estar melhor, juntei-me ao grupo e recomecei a caminhar na companhia de alguns elementos que me deram apoio e alento para continuar.O terço revelou-se duro, por estarmos debaixo de um calor abrasador e a fazer subidas que não terminavam, não acabei de fazer os últimos quilómetros, e aí tive de deixar de rezar com os pés e passar para o caro de apoio.O dia já ia longo quando nos deitamos. Já tinha eu encontrado o que procurava? Não.Iniciamos um novo dia, em encalço da minha demanda.E aí sim, encontrei alguém que acompanhou quando estava sozinho a fazer as subidas duras desta etapa. Senti alguém ao meu lado que punha a não nas costas e me empurrava dando mais velocidade às minhas pernas. Não caminha mais célere porque a minha namorada estava em Fátima à minha espera como algumas pessoas mencionaram, mas sim porque tinha VONTADE DE CAMINHAR PARA FÁTIMA. Seria por ser dia da Mãe de todos (N.ª Senhora), e da minha Mãe (Orquídea)?Tenha sido N.ª Senhora, Jesus ou até o nosso Pai Nosso Senhor Deus, conseguiu que tivesse toda a energia para chegar longe, e para obter esperança e motivação para chegar mais longe na minha Vida. Cheguei à Rotunda dos Pastorinhos juntamente com a Maria João de mãos dadas, e aí abracei e fui abraçado pela minha namorada que chorava de emoção e alegria. Contra as expectativas de algumas pessoas próximas, porque nunca acreditaram que chegasse a Fátima, cheguei não só a Fátima como no Pelotão da frente... Não venci por chegar em primeiro com a Maria João, mas sim porque cheguei... Não obtive riqueza monetária, mas enriqueci-me espiritualmente. Ganhei novos amigos, bons conselhos… Ganhei, ganhei um amigo que pensava que tinha perdido, que acompanhou-me nas horas em que caminhei só… Obrigado a todos, desde aos elementos da equipa de apoio, aos companheiros de viagem, às cozinheiras que nos alimentaram, às pessoas que deram alojamento, e a ti “Maria” que estavas à nossa espera no santuário. Obrigado N.ª Senhora de Fátima.
Obrigado Jesus.
Obrigado Deus.
Caminhei para encontrar um caminho…
MARCO BRANCO Gafanha da Nazaré (Ílhavo) - 34 anos