sexta-feira, 8 de maio de 2009
Vamos para a noite!
A noite é noite porque é noite, escura.
Mas, ai de nós!, quantos experimentamos já a noite?
Quantos conhecemos os segredos da noite?
O silêncio da noite?
O escuro da noite?
(Para além de dormir) onde costumas estar à noite?
Sim, eu sei:
à frente dum écran clarinho. Cintilante.
Nós não conhecemos a noite,
não conhecemos o fascínio da noite,
não conhecemos o medo da noite,
não conhecemos a aventura da noite,
não conhecemos os segredos da noite,
não conhecemos a luz da noite.
As nossas noites têm muita luz, não são noites.
E talvez sejam bem mais noite
essas noites que não parecem noites.
(Precisamente porque não parecem noite.)
Por outro lado (há sempre outro lado no outro lado da noite)
andando à noite com tanta luz nos olhos,
parece que esquecemos as nossas ausências interiores.
Interiormente povoam-nos ausências de luz
ausência de paz e de sossego,
ausência de estrelas
ausência de madrugadas inquietas
ausência de serenidade.
Somos tanta ausência interior, tanto desassossego!
Afinal, somos ausência, somos noite.
Somos invadidos, assaltados:
A noite aninhou-se nos recantos da alma adormecida.
(Afinal, parece, a noite come connosco à mesa!)
Vamos clarminhar, despertar a noite,
inundar a alma de luz, caminhar
desvestindo os vestidos negros da noite
que nos ausentam de nós.