Sábado, 02 de Maio de 2009
«O amor não consiste em sentir grandes coisas.»
— Não! Não pode ser… levantar?! Já? A esta hora? O que vos passará pela cabeça?! Primeiro não nos deixam dormir [os roncos parecem bombos a retumbar na madrugada silenciosa] e agora que quereis, Deus meu? Quereis que estejamos aptos para caminhar, nesta ditosa madrugada?! Onde se encontram as forças?
Mas peregrinação não rima com amuos. Por isso, peregrinemos, porque «O amor não consiste em sentir grandes coisas.»
Somos peregrinos. Por muitas razões que nos assaltem a mente, jamais poderemos deixar de caminhar. Um pouco sobressaltados e friorentos fomos convidados a levantar, lavar a cara para despertar ânimos, tomar o pequeno-almoço não sabendo bem o que se come, pois pouco se vê com olhares ensonados. Fizemo-nos à estrada. Iniciámos o nosso dia com a oração da manhã à porta de um Cemitério, sob a brisa fria e terna das seis da manhã; tiritámos, silenciámos e retemperámos forças ouvindo a voz do Pai, que nos convoca a que nos reunamos em seu Nome.
Iniciámos por fim o caminho montanhês quase intocado pela mão humana cantando alegremente os belos caminhos que a manhã nos convidava a deslumbrar, eram montes e vales, planícies, planaltos, lonjuras e horizontes: «Ó bosques de espessuras plantados pela mão do amado!....», «como são belos os pés que anunciam a paz». Sim, como é terna e suave a brisa das palavras que trocámos com os amigos ao longo deste peregrinar, mesmo em silêncio sentimo-nos amados como irmãos que caminham sentindo a presença de Deus. Carmelitas somos, no monte nascemos, o monte percorremos e vivenciamos a presença de Deus. Descendo o monte as forças tivemos que retemperar e na sombra de uma árvore fomos convidados a descansar. Os carros de apoio apareceram, com eles dois amigos que se juntaram a nós: a Irmã Palmira que iniciaria o caminho connosco desde ali; o Pedro que almoçaria connosco e nos trazia a sobremesa e a Susana no coração…
Preparávamo-nos para almoçar — e como em todos os locais pelos quais passámos fazemos amigos, somos bem recebidos e melhor acolhidos —, quando, bem perto do sítio onde almoçávamos, um amigo nos estendeu a sua mão e depôs nas mãos do Frei João uma garrafa de vinho tinto, para que retemperássemos as forças. (Só pediu que rezássemos por ele!) Obrigado, amigo! Depois descansámos, dormimos… contámos histórias de ontem e de hoje, contámos histórias das aventuras de sermos «amigos fortes de Deus», levantámo-nos e prosseguimos o caminho soalheiro. Como é bom sentirmo-nos Carmelitas! Os passos eram agora mais lentos com o sol no rosto, um pouco de fumo e de poeira espalhados no ar.
Passámos por uma praça de toiros, a mais antiga do País. Mas não vimos nem os toiros nem as mães, nem ouvimos olés ou olás! Por fim, um café, uma pausa… pois após o almoço que esperar?!
No largo duma igreja juntámo-nos para iniciarmos o caminho a rezar os mistérios… partimos dois a dois… ó que subida, e qual fôlego quê, com que haveríamos de suportar os cânticos? Faltavam uns 10km para chegarmos à meta. O Frei João ia convidando e seduzindo a que subíssemos para a carrinha. Dizia, «Para a carrinha ou para o convento!», mas ninguém ouvia o murmúrio…Passo a passo, lento ou espaçado, chegámos ao quartel da 5.ª Secção dos Bombeiros Voluntários de Pombal, em Albergaria dos Doze onde nos aguardava o Eng. Manuel Marques, Presidente da Junta e membro da Direcção dos Bombeiros. Recepção cinco estrelas, para gente que já via estrelas às cinco da tarde! Foram distribuídos os quartos: as raparigas teriam uma descansada noite nas camaratas, os rapazes ficariam numa ampla sala dormitando no aconchego do chão. Ah valentes! É mesmo à bombeiro! O jantar seria servido nas instalações do Centro Social de São Pedro de Albergaria dos Doze. O Eng. Manuel Marques acompanhou-nos e retribuiu a singela lembrança que lhe tínhamos ofertado ao ler-nos um poema de seu pai e ofertando-nos livros sobre as gentes e tradições da sua terra. Jantámos, agradecemos e regressámos ao quartel-general. Após a oração da noite, uma vez que seria a última noite que nos encontrávamos juntos nesta III Peregrinação a Pé, tivemos tempo e espaço para colher e abraçar palavras amigas, fortalecendo laços em prol do caminho percorrido, e perspectivar novos caminhos peregrinos. As palavras trocadas foram de agradecimento de todos para todos. Foram de convite à persistência e de encorajamento para que o Movimento Carmo Jovem não deixe nunca apagar a «chama do amor» que transporta no coração. Foi ainda entregue a cada peregrino a t-shirt da III Peregrinação a Pé a Fátima do Carmo Jovem, que no peito tinha o símbolo sorridente das peregrinações do Carmo Jovem e nas costas podia ler-se “Andai sempre alegres!”, tema desta Peregrinação. Foi-nos ainda pedido que no dia seguinte todos envergássemos, esta camisola e que sempre levássemos o Carmo Jovem no coração. Assim seria…
A noite já ia adiantada quando o olhar piscava convidando ao descanso…